segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Grizzly Bear (Urso Grisalho)

Não ando a gostar nada disto. Parece-me que este ano de 2009 chegou para nos irritar. Faz-se assim: deixamos toda a gente falar dos melhores discos da década e só depois depois lançamos os melhores discos deste ano. E nenhum de nós fica na lista dos melhores da década; ficamos naquele limbo temporal onde não se é carne nem é peixe; temos um álbum que ai-jesus, mas não!, não ficamos nas listas da tanga. Também, só os parolos é que ligam a listas.

Este ano da Graça do Senhor de 2009 é o melhor ano Indie desde 2003, e as pessoas têm de meter isto na cabeça independentemente da dimensão da cabeça de cada um. Mais eu digo: esta segunda metade de 2009 está a ver ser produzido material que entraria de caras nos melhores álbums da década. Só não entram porque, enfim, as listas têm de sair antes que a década acabe (vá-se lá perceber porquê).

Isto a propósito destes Grizzly Bear (Urso Grisalho, em português) que têm um álbum com uma qualidade inversamente proporcional - pode-se dizer estas coisas, não se pode?, afinal é suposto isto ter leitores que são estudantes e tal, não é? - ao mau gosto do nome da banda. Reparem, também não têm gosto no álbum: Veckatimest.

Quer-se dizer, vasectomia? É o que me faz lembrar. Mas pronto, pegando no bicho e ouvindo-o com atenção só posso dizer isto: é lindo, foda-se. (Pode-se dizer asneiras, não se pode?, afinal é susposto isto ter leitores que são estudantes e tal, não é?). Os arranjos são lindos, a música é pensada e pura e linda e tudo e tudo e tudo. Por exemplo, a Two Weeks lembra-me Supertramp na construção melódica, na inclusão de vários elementos musicais diferentes e, claro, na presença de um piano tocado à imagem - ou som - de marca deles. Mas a Two Weeks é só uma música das diversas obras dignas de audição que aqui se encontram, e não pensem, mentes mais jovens com acessos de nojo perante referências passadas, que estes gajos soam a Supertramp. Não: eles lembram-me os Supertramp (Supertrampa, em português) na quantidade de "sonzinhos" que se podem ouvir ali escondidos por trás de uma linha de baixo, por exemplo, e que ornamentam de forma suave e bela uma melodia - e nisto sim, eles são parecidos aos Supertramp.

Olhem, meus caros, musicalmente falando, estes gajos criaram um dos melhores álbums do ano. O que perdem em sinceridade, em sentimento puro (lembro-me do Hospice dos Antlers, como sempre...) é compensado com a forma como parecem balancear o épico com o simples em todas - em todas! - as músicas. E cada nova audição permite perceber a beleza com que cada música foi criada: parece que construiu-se uma coisinha e depois um especialista, armado com um utensílio que só ele sabe manobrar (o talento), fez uns acabamentos perfeitos e saiu dali uma coisa em que se pode dizer sim senhora, isto é lindo e não dava para ficar melhor que isto. Parece estranho, mas se ouvirem vão perceber.

Segundo álbum do ano, para mim - verdade absoluta e incontestável, portanto.



quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Crystal Antlers

Seguindo uma onda de cornudos, isto porque o Gongas nos apresentou The Antlers, aproveito para apresentar os Crystal Antlers (em português, Chifres de Cristal). São uma banda de Garage Rock californiana com uma sonoridade bastante old school, que nos brindam com "pianadas" malucas ao bom velho estilo dos 60's/70's. Podemos encontrar também vozes rasgadas (e até alguns berros), letras depressivas, guitarradas fortes e linhas de baixo electrificantes, que vão beber aos eternos The Doors e Led Zeppelin. =)
Discografia:
Deixo-vos estes vídeos para provarem o veneno destes cornudos:



terça-feira, 24 de novembro de 2009

The Clientele (a Clientela)

A única divisão que realmente importa fazer para uma melhor compreensão da humanidade em geral e da sociedade ocidental em particular é a que George Lucas (Jorge Lucas, em português) apresentou em Stars Wars. Existe o Lado Negro e o Lado da Força. Depois é só pegar em tudo e colocar num desses dois campos. E de repente tudo faz muito mais sentido.

Ora bem, seguindo esse princípio e aplicando-o a coisas que interessam, temos que The Antlers é Dark Side, obviamente. Mas tenho para mim (e agora também tenho para vocês) que The Clientele, com o álbum Bonfires On The Heath que descobri há coisa de dias, é do lado da Força. Pessoalmente, é chato: ando numa fase da minha vida em que a única alegria que consigo sentir provém de sentimentos ora de natureza deprimente, ora de natureza depressiva - coisa que os The Antlers conseguem provocar de forma gloriosa em qualquer pessoa que os oiça com atenção.
Mas agora, para mal dos meus pecados, surgem este palhaços, pá, e vêm estragar tudo com a sua boa disposição equivalente à depressão dos The Antlers. Não é alegria parva, à lá The Go! Team: é aquela alegria de quem está feliz com a vida porque sim, sempre com um sorriso nos lábios e uma calma de quem sabe que é assim e mais nada; e está tudo bem; e há peace of mind. É para relaxar, com serenidade. Quit the whining, enjoy life.

E depois há outra: eu, todo Dark Side, bem tentei ouvir isto com desdém. É que gosto pouco de pessoas bem intencionadas. Mas não dá: não há um único minuto de música que não seja bom. Fui derrotado. O que vale é que este é o tipo de batalha que gosto de perder.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

The Thermals

Banda indie estadunidense, segundo a Vikipédia e a minha intuição otorrina, descoberta há uns tempos no âmbito de uma pesquisa a "Kathy Foster", rapariga ágil no baixo e na bateria (adoro isto). Para quem gosta de suar de pulos e gritar e espernear, de tshirt e calções, algures sobre relva desfeita em terra batida, tomem lá The Thermals, que já vão com quatro álbuns desde 2003. Prefiro o primeiro, More Parts per Million. Fica uma pequena e parcial selecção:


No Culture Icons, More Parts per Million (2003)
Espreitem a Pillar of Salt, também.


How We Know, Fuckin A (2004)


Now We Can See, Now We Can See (2009)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

The Antlers

Às vezes a subjectividade sente-se de tal forma que se torna lei. Eu não acreditava em amor à primeira vista. Coisa de maricas. Até que me apaixonei à primeira vista. A partir dessa altura passei a ter mais respeito com quem diz esse tipo de mariquices.

Pois aconteceu-me coisa semelhante com os The Antlers, no álbum Hospice. Ia no 2º minuto da 2ª música (a primeira tem 3 minutos) e pensei: este é o melhor álbum do ano. Que parvoíce. Mas não é que é mesmo? A música tem uma densidade que sai fora das bandas que por aí andam em que agora-somos-uma-banda-indie-encaixa-aqui-uns-riffs-e-uns-refrões-orelhudos-e-pronto-agora-somos-uma-banda-indie-somos-mesmo-fixes.

Primeiro que nada, aqui há depressão, há morte. Chega a cheirar a Arcade Fire (sim, há esperança). Nota-se que as músicas foram trabalhadas, são belas. E é um álbum conceptual. Oh, quando os álbums são conceptuais são trabalhados, são pensados. Perde-se mesmo tempo com aquilo, tempo para além do "pronto, soa bem". Chega-se ao "pronto, era isto que eu queria criar". E este gajo, Peter Silberman, arranjou as condições ideais para criar uma obra de qualidade. Pegou em si mesmo, levou-se para Brooklyn e isolou-se durante 2 anos da família e dos amigos. Foi sem querer, a adaptação à Grande Maçã era-lhe mais difícil do que ele supusera. Ali sozinho, a escrita criativa acabou por ser mais que um hobby, passou a necessidade. E vai daí criou esta beleza. O álbum conta a história de uma doente com cancro em estado terminal, do seu companheiro e da enfermeira. Deprimente? Não. Poderoso. Ouçam-no. Vão perceber que é uma história marcante. Para ouvir e ouvir e ouvir.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O'queStrada

Recordar o fado como música do mundo?!
Pintar o Galo de Barcelos às ricas? Com cores e padrões todos freaks?

O'queStrada, mais um projecto português a não perder, que cruza caminhos com os Deolinda, mas que a meu ver tem mais feeling, mais festa, mais música de bairro, mais carga cultural.
Lançaram o seu primeiro álbuml, Tasca Beat: O Sonho Português, em Abril do ano corrente, mas existem desde 2002.
No seus sons, podemos encontrar guitarra portuguesa, acordeão, trompete, contrabaixo, entre outros, combinados com uns ritmos a atirar pró "pé de dança". Isto tudo aliado à voz descomplicada e irreverente de Miranda, a vocalista base da banda.

Entrevista a Miranda ao jornal Destak:
(...)
Qual é o conceito do que vocês intitulam de fado dos subúrbios?

Essa é uma das abordagens. Nós vivemos nos subúrbios e foi lá que o projecto começou. Falamos do fado dos subúrbios como um destino que pode ser mudado. Se formos para um subúrbio em Paris ouvimos as mesmas línguas que aqui, ouve-se o crioulo, o português, o francês... Mas também intitulamos a nossa música como Tasca Beat, uma nova batida portuguesa. Temos um bocadinho de dificuldade em classificar a nossa música.
(... )

Podem ler a entrevista na integra aqui.

Fica a recomendação e deixo-vos aqui este "Oxalá te veja":


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Paulo Furtado

Temos todos de dar as mãos de forma religiosa e ser sérios: o Paulo Furtado, em inglês Robbed Paul, also known as The Legendary Tiger Man e que também é vocalista dos Wraygunn, atingiu um estatuto que permite a pessoas ignorantes mas bem-intencionadas (não sou uma coisa nem outra) afirmar que é o melhor músico português sem serem nem ignorantes nem bem-intencionadas. Pode não ser verdade - mas também pode ser.

O que o homem faz sozinho é qualquer coisa de... complicado. Para tocar bateria temos de ter um mínimo de coordenação (e, já agora, sentido rítmico). O mesmo para a guitarra. Porra: até para tocar harmónica temos de ter um mínimo de coordenação. Agora, para tocar guitarra, bateria e harmónica ao mesmo tempo não é preciso ser-se super coordenado. É pior: é preciso ser-se coordenado ao ponto de passar a ser descoordenado. Aquilo, de tanta coordenação que exige, dá a volta à definição e passa a descoordenação. Ainda por cima com raízes nos Blues e no Folk, (já os Tédio Boys ensaiavam Johnny Cash, só para referir um), aliar a técnica ao bom gosto evidente torna-o, também evidentemente, na figura musical da década 00 em Portugal. Isto na minha opinião que, como sabem (ou irão saber), é uma verdade absoluta.