quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Yann Tiersen - Dust Lane


Após 6 anos sem lançar um álbum de originais em nome próprio, Yann Tiersen apresenta-nos o resultado da metamorfose em que se embrenhou durante todo esse tempo. Quem acompanha o trabalho deste compositor, sabe que ele tem vindo a transgredir a sua formação clássica em direcção ao mundo do post-rock e do assim denominado indie. Para essas pessoas, este álbum é o caminho que se poderia esperar do Tiersen, aliando o seu género de composição, à fusão com outros estilos tanto modernos como antigos, e que ele tem vindo a explorar.
Para as restantes, o álbum será ums surpresa irreconhecível.



Encontra-se neste álbum um Tiersen maduro, com remniscências da sua juventude. Temos uma música séria, de quem tem mãos com constante criatividade bem reconhecida, no entanto, a nostalgia do pos-punk que viveu na sua era juvenil é um marco nítido. O álbum não é triste, mas não se exalta demasiado aos clichés da actualidade. Tem cores, mas pode-se considerar sóbrio. Citando a Persistência da Memória de Dali, ou o Eternal Sunshine of the Spotless Mind de Gondry, a nostalgia surge como quando hoje em dia nos recordamos da infância, no entanto, ao lembrar-nos de nós e das pessoas, vemo-nos como somos actualmente, e não como eramos na altura.



Em termos de enquadramento no seu trabalho, esta nova vertente muda-o de direcção, mas não cria nenhuma aresta. Sentimos que o Les Retrouvailles, de 2005, foi uma premonição do que vinha aí, onde Tiersen começou a anunciar um desejo de mudança. No seu álbum ao vivo On Tour tinha já editado versões post-rock de muitos dos seus antigos sucessos. E desde essa altura tem vindo a trocar, nos seus concertos, o piano pela guitarra e o acordeão pelo ondes martenot, mudança que suscitou nos apreciadores e na crítica um misto de aclamação e de desagrado. Os que apenas gostam do Tiersen clássico ficaram profundamente desiludidos com o novo caminho, facto que se observou directamente com o regular abandono de alguns espectadores a meio dos concertos. Para quem acredita que o novo caminho possa ser tomado sem que ele perca a qualidade que sempre teve, o novo género tem sido uma redescoberta de alguém que se pensava estar já estritamente definido. Ao mesmo tempo, este novo caminho redefine o público que o segue, abrindo novas portas a quem antes não se sentia atraído pelo seu trabalho.



Para fechar, o álbum representa um sinal de pontuação e um novo parágrafo, na história de quem faz a música que sente a cada momento. Independentemente de ser o que os antigo fãs querem ou não ouvir, é o que ele quer fazer. Muitos outros artistas seguiram esse caminho, e por mais que muitas vezes nos desiludam, o importante é perceber se o fazem por que querem, ou porque o mercado e os produtores o querem. Neste caso a progressão que o trouxe até este ponto denota nitidamente que é o que ele quer.


Quem quiser continuar a ouvir, ouve; quem não quiser, terá sempre os antigos álbuns que serão eternamente imortais; e quem não queria ouvir antes poderá querer ouvir agora. Vale a pena experimentar.