Ontem, à procura de qualquer coisa, fui a gaveta há muito esquecida no meu quarto. Lá dentro, junto a canetas e tampas e borrachas e bilhetes de concertos e recibos de coisa-nenhuma, cartas.
Reabri uma, cheia de pó. Era de uma "Mafalda". Não conheço nenhuma Mafalda.
Em letra de menina, leio na diagonal. Encontro um "Tens namorada?" no meio de trivialidades juvenis.
E então lembro-me: isto foi numas férias no Algarve, com os meus 12 anos ou coisa que o valha. Éramos três rapazes a conhecer três raparigas. Paixonetas de verão. Trocámos apenas e só moradas e, olha, ao que parece, uma Mafalda escreveu-me.
E esta carta existe porque na altura não se usavam telemóveis e a internet era um bicho estranho. Lembrar-me disto e pensar na rapariga - de uma forma abstracta, pois não faço ideia de como era - e no trabalho que teve de me escrever 3 páginas à mão, arranjar um envelope, comprar um selo e ir colocá-la no marco do correio, fez-me sorrir pela pureza da coisa. Hoje em dia há muito que não se escrevem cartas d'amor. Não sou o único a reparar:
Os Arcade Fire escreveram um álbum sobre os subúrbios. Não sei se sabem onde ficam: aqueles sítios onde se cresce e vive antes de mudarmos para outro lado/outra vida qualquer? Vejam lá aqui.
O álbum vale muito mais do que um ouvi a primeira vez, não é igual aos outros dois, não ouvi mais. É diferente. E igualmente bom. Que grande carreira estes gajos têm. 18 Novembro, ao Pavilhão Atlântico. Vemo-nos lá.